Forças israelitas recolhem mais corpos de reféns na Faixa de Gaza

por Cristina Sambado - RTP
Familiares e amigos assistem ao funeral de Shani Luk, um alemão-israelita de 22 anos que foi morto quando fugia de um festival de música a 7 de outubro. Ilia Yefimovich via AFP

O Exército israelita anunciou esta sexta-feira que os corpos de três reféns mortos a 7 de outubro de 2023 foram recuperados durante a noite, na Faixa de Gaza.

Os corpos de Orión Hernández Radoux, de 30 anos, Hanan Yablonka, de 42 anos, e Michel Nisenbaum, de 59 anos, foram recuperados durante a noite numa operação conjunta do exército e dos serviços secretos em Jabaliya, no norte de Gaza, onde se registaram intensos combates nos últimos dias.Os corpos, recuperados numa operação conjunta levada a cabo pelas forças armadas e pelo Shin Bet, foram identificados por médicos do Instituto Nacional de Medicina Legal de Israel e pela polícia israelita.

Segundo o Times of Israel, Hernández Radoux, de nacionalidade mexicana e francesa, era namorado de Shani Louk, uma das quatro reféns cujos corpos foram encontrados em Jabaliya na semana passada. Hernández Radoux e Yablonka estavam no festival de música Supernova.

De acordo com o Exército, os três reféns foram mortos no dia do ataque em Mefalsim, Israel, tendo os corpos sido levados para Gaza pelos efetivos do Hamas.
O anúncio foi feito menos de uma semana depois de o Exército ter encontrado os corpos de três outros reféns israelitas mortos em 7 de outubro.
Os militantes do Hamas mataram cerca de 1.200 pessoas, principalmente civis, e raptaram cerca de 250 cidadãos no ataque de 7 de outubro.

Cerca de metade desses reféns foram entretanto libertados, a maioria no quadro do processo de troca de prisioneiros palestinianos detidos por Israel durante um cessar-fogo de uma semana em novembro do ano passado.
Israel afirma que cerca de uma centena de reféns ainda estão presos em Gaza, além de se encontrarem no enclave os corpos de cerca de 30 sequestrados. Na sequência do ataque do Hamas, Israel atacou o enclave.
Bombardeamentos prosseguem na Faixa de Gaza
Esta sexta-feira, os bombardeamentos do exército israelita e os combates terrestres prosseguiram na Faixa de Gaza, numa altura em que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) deverá pronunciar-se sobre um pedido de cessação da ofensiva militar no território palestiniano devastado por mais de sete meses de guerra.

O exército israelita prossegue as suas operações em Jabaliya (norte) e no campo de deslocados com o mesmo nome.

Durante a noite, aviões de guerra israelitas sobrevoaram Gaza e ouviram-se disparos a sudeste desta grande cidade do norte do território palestiniano, avança a AFP. O exército israelita informou que foram disparados tiros e morteiros contra os soldados do Hamas no centro da cidade.

Segundo fontes hospitalares várias pessoas tinham ficado feridas em ataques a Deir al-Balah (centro).

Na quinta-feira, a Defesa Civil da cidade de Gaza (norte) revelou que dois ataques aéreos mataram 26 pessoas, incluindo 15 crianças. Dezasseis delas foram mortas quando um ataque atingiu as suas casas e as outras dez num bombardeamento de uma mesquita e de uma escola.Esta sexta-feira, o Tribunal Internacional de Justiça o mais alto tribunal da ONU, deverá pronunciar-se sobre um pedido da África do Sul, que acusa Israel de "genocídio" na Faixa de Gaza, para ordenar um cessar-fogo "imediato" na Faixa de Gaza. As ordens deste tribunal, com sede em Haia, são juridicamente vinculativas, mas não tem meios para as fazer cumprir.

Violentos combates opuseram também o braço armado do Hamas e o movimento palestiniano Jihad Islâmica às forças israelitas em Jabaliya (norte).


"Está a ser travada uma guerra contra os hospitais da Faixa de Gaza", afirmou à AFP Khalil Al-Darkan, porta-voz do Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir al-Balah, alertando para o facto de as atividades do hospital poderem ser interrompidas devido à falta de combustível.

Desde a ofensiva terrestre israelita, no início de maio, sobre uma parte da cidade de Rafah e a tomada do posto fronteiriço com o mesmo nome do lado palestiniano, a ONU diz ter constatado uma paralisação no fornecimento de combustível, essencial para alimentar os geradores dos hospitais.

Quanto ao outro grande ponto de entrada de mercadorias, Kerem Shalom, "o sector privado tem, de momento, prioridade sobre a ONU", avançou à AFP Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para os refugiados palestinianos (Unrwa).

O exército israelita lançou operações terrestres em Rafah a 7 de maio com o objetivo declarado de eliminar os últimos batalhões do Hamas e resgatar os reféns, ignorando os avisos internacionais sobre o destino dos civis. Em consequência, 800 mil pessoas fugiram de Rafah, segundo a ONU.

"Não estamos a fazer nenhuma incursão súbita em Rafah, estamos a operar com cautela e precisão", disse o porta-voz do exército israelita, contra-almirante Daniel Hagari, na quinta-feira.Netanyahu vai brevemente a Washington
No início da semana, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, pediu a emissão de mandados de captura para dirigentes israelitas, incluindo o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e dirigentes do Hamas, incluindo o chefe do movimento islamita palestiniano em Gaza, Yahya Sinouar.

Apesar da polémica, Benjamin Netanyahu vai discursar "em breve" perante o Congresso norte-americano, anunciou na quinta-feira à noite o líder republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, depois de o presidente democrata, Joe Biden, ter criticado o anúncio do procurador-geral Khan.

"Esta noite, tenho o prazer de anunciar outra coisa: em breve receberemos o primeiro-ministro Netanyahu no Capitólio para uma sessão conjunta do Congresso", revelou o presidente da Câmara dos Representantes numa receção na Embaixada de Israel em Washington.
Confrontos diplomáticos 

A par da atividade judicial em Haia e da violência em Gaza, Israel continua a ser confrontado diplomaticamente com o anúncio feito na quarta-feira pela Espanha, Irlanda e Noruega de que vão reconhecer um Estado palestiniano a 28 de maio, para ajudar a garantir a suspensão da ofensiva israelita em Gaza após o ataque do Hamas a 7 de outubro e reavivar as conversações de paz que estagnaram há uma década.

Na quinta-feira, o chefe do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, Jacob Blitstein, advertiu, após uma reunião com os embaixadores destes países, que a sua decisão teria "consequências graves" e que tornaria "mais difícil promover um acordo para a libertação dos reféns".

Esta sexta-feira, chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, sublinhou que o reconhecimento de um Estado palestiniano não era um presente para o Hamas."O reconhecimento do Estado Palestiniano não é uma prenda para o Hamas, muito pelo contrário", afirmou. "A Autoridade Palestiniana não é o Hamas, pelo contrário, estão profundamente confrontados".Borrell revelou ainda que a União Europeia já conversou, financiou e reuniu com a Autoridade Palestiniana.

"Sempre que alguém toma a decisão de apoiar um Estado palestiniano, (...) a reação de Israel é transformá-la num ataque antissemita", acrescentou.

No entanto, após a divulgação de um vídeo que mostra o rapto de mulheres militares por combatentes do Hamas, em 7 de outubro, o Gabinete de Guerra ordenou aos negociadores israelitas que "regressassem à mesa das negociações para obter o regresso dos reféns", segundo um alto funcionário.

No início de maio, as negociações indiretas entre Israel e o Hamas, mediadas pelo Catar, o Egito e os Estados Unidos, não conseguiram chegar a um acordo sobre uma trégua que implicasse a libertação dos reféns e prisioneiros palestinianos detidos por Israel.

Segundo o site americano Axios, o diretor da CIA, William Burns, deverá deslocar-se à Europa "nos próximos dias" para se encontrar com o chefe da Mossad, os serviços secretos israelitas, e com o primeiro-ministro do Catar, numa tentativa de relançar as conversações.

Citando uma "fonte de alto nível", o meio de comunicação Al-Qahera News, próximo dos serviços secretos egípcios, afirmou que "a posição israelita continua a não ser favorável" a um "cessar-fogo e à libertação dos reféns".

c/ agências
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